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quinta-feira, 12 de abril de 2018

A geração digital


Publicado originalmente no site FÓRUM, em 24/08/2012

A geração digital

Por Francisco Machado Filho  

É possível afirmar com toda a certeza, que na história da televisão broadcast este seja o momento de maior revolução tecnológica e de alteração no comportamento do telespectador. Mesmo no início do desenvolvimento da televisão e toda a dificuldade da implantação em escala de massa, a atual realidade está forçando aos radiodifusores rever todas a estrutura física e de programação. Pode-se dizer que seja um recomeço e que nos mais de 80 anos da televisão mundial tudo que foi aprendido e estruturado dentro de um modelo de negócios, que aliás, também está mostrando sinais de fadiga, tem de ser adaptado aos novos tempos.

Na sessão Convergência Broadcast/Broadband, comandada por Fernando Bittencourt (SET – TV Globo), ficou evidente como a chamada “geração digital” está impactando o setor de mídia em dois principais aspectos: a nova estrutura informacional e em rede e os novos comportamentos do usuário, que passa a ter acesso aos novos dispositivos de distribuição de conteúdo, a chamada geração Y. E como forma de entender como a audiência está se transformando, Bittencourt inovou e trouxe para sessão um grupo de 9 jovens, todos abaixo do 20 anos de idade, que foram questionados pelos palestrantes e também pelo público presente sobre seus hábitos de consumo de informação e entretenimento nas diversas plataformas. No depoimento destes garotos todas as afirmações acerca do comportamentos dos jovens puderam ser testadas e, muitas delas, confirmadas, tais como: a uso de dispositivos móveis com a televisão ligada, a aversão por publicidade nos conteúdos online, o uso do celular como mídia e como dispositivo indispensável (caso fossem obrigados a escolher apenas um para uso diário) e a falta de atenção nos comercias exibidos na televisão aberta.

O que tempos atrás poderia ser considerado um desastre ao modelo de negócios da TV aberta, hoje está se mostrando uma oportunidade de novos negócios para gestores e executivos que conseguirem identificar essas novas oportunidades e que não sejam inflexíveis em abrir mão do modelo antigo. Está cada vez mais claro, que o modelo de negócios da TV aberta, baseado quase que exclusivamente na publicidade e na comercialização do espaço publicitário baseado em estatísticas de audiência não irá ficar incólume às mudanças que a geração digital está impondo.

Na outra ponta desta nova geração está a forma de distribuição de conteúdo na estrutura física da rede de computadores. A transmissão não se dá mais apenas pelo ar, mas está migrando para a internet e em uma velocidade incrível. A demanda por consumo de vídeo na internet está crescendo de uma forma espantosa, mesmo no Brasil, onde 75% da população convive com o modelo básico de uso dos dispositivos: aparelho de TV com recepção na programação aberta e o PC conectado à internet com velocidade entre 256 Kb a 2 Mb. A partir daí, as camadas com melhor condição financeira vai incluindo dispositivos conectados ao aparelho de televisão, como: DVD, Blu-Ray, games, e os serviços OTT, ou possuem as televisões inteligentes conectadas à rede. Somado a estas duas configurações está a crescente demanda por mobilidade forçando os produtores de conteúdo a produzir produtos multiplataforma, o que atualmente é um processo caro e depende da estrutura Wi-Fi ou da rede de celulares.

Pelo número de sessões no congresso da SET este ano que tratam do conteúdo broadcast na Web, é possível perceber a importância desta nova realidade na distribuição de conteúdo. E o Brasil ocupa um lugar privilegiado neste contexto, pois é o único pais onde a TV aberta comercial ano após ano aumenta o faturamento com publicidade. isto se deve a fatores ligados às políticas econômicas adotadas pelo governo, ao acesso relativamente menor dos indivíduos à banda larga e etc.. Com isso, tem-se um tempo ainda favorável para que os radiodifusores possam analisar as mudanças e ao poucos planejarem as estratégias de migração do conteúdo para a rede de computadores. Tempo que outros países como EUA não possuem, visto que as configurações de mercado nestes países são outras.

Contudo, está ficando cada vez mais evidente que o modelo tem de mudar. O contexto é digital, mas a gestão ainda é analógica e isso poderá ser fatal para aqueles que não partirem para a inovação também na gestão e não apenas na questão tecnológica.

Texto e imagem reproduzidos do site: revistaforum.com.br

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