Publicado originalmente no site FÓRUM, em 24/08/2012
A geração digital
Por Francisco Machado Filho
É possível afirmar com toda a certeza, que na história da
televisão broadcast este seja o momento de maior revolução tecnológica e de
alteração no comportamento do telespectador. Mesmo no início do desenvolvimento
da televisão e toda a dificuldade da implantação em escala de massa, a atual
realidade está forçando aos radiodifusores rever todas a estrutura física e de
programação. Pode-se dizer que seja um recomeço e que nos mais de 80 anos da
televisão mundial tudo que foi aprendido e estruturado dentro de um modelo de
negócios, que aliás, também está mostrando sinais de fadiga, tem de ser
adaptado aos novos tempos.
Na sessão Convergência Broadcast/Broadband, comandada por
Fernando Bittencourt (SET – TV Globo), ficou evidente como a chamada “geração
digital” está impactando o setor de mídia em dois principais aspectos: a nova
estrutura informacional e em rede e os novos comportamentos do usuário, que
passa a ter acesso aos novos dispositivos de distribuição de conteúdo, a
chamada geração Y. E como forma de entender como a audiência está se
transformando, Bittencourt inovou e trouxe para sessão um grupo de 9 jovens,
todos abaixo do 20 anos de idade, que foram questionados pelos palestrantes e
também pelo público presente sobre seus hábitos de consumo de informação e
entretenimento nas diversas plataformas. No depoimento destes garotos todas as
afirmações acerca do comportamentos dos jovens puderam ser testadas e, muitas
delas, confirmadas, tais como: a uso de dispositivos móveis com a televisão
ligada, a aversão por publicidade nos conteúdos online, o uso do celular como
mídia e como dispositivo indispensável (caso fossem obrigados a escolher apenas
um para uso diário) e a falta de atenção nos comercias exibidos na televisão
aberta.
O que tempos atrás poderia ser considerado um desastre ao
modelo de negócios da TV aberta, hoje está se mostrando uma oportunidade de
novos negócios para gestores e executivos que conseguirem identificar essas
novas oportunidades e que não sejam inflexíveis em abrir mão do modelo antigo.
Está cada vez mais claro, que o modelo de negócios da TV aberta, baseado quase
que exclusivamente na publicidade e na comercialização do espaço publicitário
baseado em estatísticas de audiência não irá ficar incólume às mudanças que a
geração digital está impondo.
Na outra ponta desta nova geração está a forma de
distribuição de conteúdo na estrutura física da rede de computadores. A
transmissão não se dá mais apenas pelo ar, mas está migrando para a internet e
em uma velocidade incrível. A demanda por consumo de vídeo na internet está
crescendo de uma forma espantosa, mesmo no Brasil, onde 75% da população
convive com o modelo básico de uso dos dispositivos: aparelho de TV com
recepção na programação aberta e o PC conectado à internet com velocidade entre
256 Kb a 2 Mb. A partir daí, as camadas com melhor condição financeira vai
incluindo dispositivos conectados ao aparelho de televisão, como: DVD, Blu-Ray,
games, e os serviços OTT, ou possuem as televisões inteligentes conectadas à
rede. Somado a estas duas configurações está a crescente demanda por mobilidade
forçando os produtores de conteúdo a produzir produtos multiplataforma, o que
atualmente é um processo caro e depende da estrutura Wi-Fi ou da rede de
celulares.
Pelo número de sessões no congresso da SET este ano que
tratam do conteúdo broadcast na Web, é possível perceber a importância desta
nova realidade na distribuição de conteúdo. E o Brasil ocupa um lugar
privilegiado neste contexto, pois é o único pais onde a TV aberta comercial ano
após ano aumenta o faturamento com publicidade. isto se deve a fatores ligados
às políticas econômicas adotadas pelo governo, ao acesso relativamente menor
dos indivíduos à banda larga e etc.. Com isso, tem-se um tempo ainda favorável
para que os radiodifusores possam analisar as mudanças e ao poucos planejarem
as estratégias de migração do conteúdo para a rede de computadores. Tempo que outros
países como EUA não possuem, visto que as configurações de mercado nestes
países são outras.
Contudo, está ficando cada vez mais evidente que o modelo
tem de mudar. O contexto é digital, mas a gestão ainda é analógica e isso
poderá ser fatal para aqueles que não partirem para a inovação também na gestão
e não apenas na questão tecnológica.
Texto e imagem reproduzidos do site: revistaforum.com.br
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