Texto publicado no site da revista Carta Capital, em 14/09/2011
O jornalismo impresso vai acabar?
Por Clara Roman
Profissionais não sabem qual será o modelo de negócios do
futuro, mas garantem: a mídia impressa está condenada
Não há consenso entre os profissionais da imprensa, do
marketing digital e da propaganda: qual
será o modelo vencedor no futuro, capaz de gerar renda na internet e substituir
os negócios hoje ainda centrados no papel e na televisão? No segundo dia do
evento New Brand Communication (NBC) a grande pergunta era se a internet
conseguirá democratizar a comunicação no País, hoje concentradas em algumas
poucas corporações familiares.
A questão pesa tanto na publicidade quanto no jornalismo. “A
gente tem um vício que é a Casa Grande – Senzala,” diz Rene de Paula, que
participou da mesa “Inovação em Comunicação de Marcas”. Segundo o publicitário,
os profissionais da área acabam imersos em um universo particular, onde “todos
possuem Iphone, enquanto a maioria do Brasil está comprando um notebook ou PC
em 12 prestações”. É esse público que o marketing online deve atingir. “O
grande desafio é entender que as coisas não acontecem somente na Vila Olímpia.
A inovação deve ser social, política”, diz.
Para exemplificar, De Paula cita o Orkut, site de
relacionamentos tido como ultrapassado pelas Classes AB, mas ainda um dos mais
acessados no País. Segundo ele, é o que dá mais retorno. A inovação, diz De
Paula, não consiste em criar aplicativos, mas em entender os mecanismos de
acesso à Web no Brasil. “Achava que a internet iria ser a coisa mais inclusiva,
mas acho que estamos aumentando o abismo.”
O conteúdo continua sendo elencado como o fator mais
importante para um negócio de sucesso. Gianni Carta, editor do website de
CartaCapital, falou da sua experiência à frente da página eletrônica da
revista. "A CartaCapital tem uma marca, que é uma linha editorial
progressista: pró-mercado, mas contrária a uma globalização desenfreada. O
website tem de refletir mais essa marca, esse brand”, diz Carta.
Divergência
No painel “O Futuro da Mídia”, o debate girou em torno de
uma divergência entre Luiz Carlos Azenha,
Marcelo Coutinho e Enor Paiano. Paiano é diretor de publicidade do UOL e
Coutinho é diretor de Inteligência de Mercado do portal Terra, os dois grandes
do jornalismo e entretenimento online. Já Azenha é dono do blog “Vi o mundo”,
em que escreve sobre política.
“A ecologia da mídia é a mesma de 50 anos atrás. O peixe
grande come o peixe pequeno”, afirmou Azenha, iniciando a polêmica que se
estenderia por quase toda a mesa. Isso porque Coutinho e Paiano defendiam a
ideia de que, com a democratização dos instrumentos de mídia proporcionada com
a internet, mais pessoas passariam a ser produtoras, quebrando o monopólio dos
grandes meios de comunicação. Como exemplo, Paiano citou o UOL, que possui 300
sites agregados de pequenos empresários da mídia. Esses sites são geralmente
administrados por uma pessoa que faz a página e terceiriza serviços. “Alguns
são remunerados, outros não”, observa Paiano.
Para contrapor a teoria, Azenha citou o próprio caso: o
blogueiro afirma que não recebe quase nada para tocar o site e ainda tem gastos
fenomenais em processos pelo que escreve. Para justificar, Coutinho afirmou que
o problema é o tema: o jornalismo político sempre deu prestígio, nunca deu
receita. O que vende é Esportes e Celebridade. “É claro que um blog politizado
enfrenta mais pressões, como o Movimento”, argumenta Coutinho. O jornal Movimento foi uma publicação fundada
em 1975 que sofreu forte repressão durante a Ditadura Militar.
A grande questão, no entanto, é como sustentar o modelo
digital e se, de fato, o papel entrará em decadência. “Talvez o online não
signifique o fim do papel, mas como essas coisas podem coexistir”, colocou a
moderadora e repórter especial de CartaCapital, Cynara Menezes. Mas a mesa
discordou. Coutinho foi incisivo ao afirmar que o papel vai sim acabar, em
pouco tempo, mesmo com a venda de jornais aumentando e os anúncios se
concentrarem em grande parte nas publicações dos grandes veículos. Mas, diz
ele, a cada reajuste, os anúncios ficam mais baratos, sufocando as empresas.
Paiano acredita no fim do modelo de produção que hoje
assistimos: o grupo de pessoas que filtra a informação para todas as outras
será posto em xeque. A televisão, segundo ele, terá ainda uma sobrevida, uma
vez que o mercado publicitário está em torno do orçamento da rede Globo.
O americano Saman Rahmanian também foi categórico ao apostar
no fim da mídia impressa. Os Estados Unidos estão anos na frente nesse
processo, e já assistiram a naufrágios de diversos veículos de comunicação.
Para Rahmanian, o papel se extinguirá e a notícia será dada em outro formato.
“Uma redefinição do trabalho será necessária se quisermos nos manter no
mercado”, oferece Rahmanian. “Todo mundo tem as ferramentas, mas nem todo mundo
tem coisas interessantes para dizer."
Fundamental, conclui ele, é oferecer conteúdo.
Texto reproduzido do site: cartacapital.com.br
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