Mídias sociais também têm a sua versão do 'horário nobre'
Publicado originalmente no site jlpolitica, em 01.jan.2018
Em 2018, o vídeo dominará o jornalismo e a internet
Modelo da TV venceu o textual na web
Por Hossein Derakhshan*
A internet costumava ser algo que se lia. Em 2018, será
oficialmente algo a que se assiste.
Duas décadas depois de a web apresentar um desafio
inesperadamente sério para a televisão, nós podemos dizer com tranquilidade que
a televisão venceu. Ela conquistou a internet, a mídia, e assim o mundo.
Não só como um meio, mas como um discurso que afeta
profundamente a nossa compreensão de nós mesmos e do mundo. Sua forma linear,
centralizada, movida a emoção e centrada em imagens prevaleceu sobre a forma
descentralizada, textual e racional da World Wide Web, inspirada em livros e
jornais.
Não só há muito mais investimento em jornalismo em vídeo,
mas também os modelos de negócios televisivos, aberta ou a cabo, estão também
dominando: anúncios em vídeos no início ou no meio de clips, product placement
e assinaturas mensais. Isso ocorre enquanto anúncios digitais ou analógicos
para a mídia em texto estão despencando.
Até a crítica contra “direcionamento para vídeo” é mais
sobre “direcionamento a vídeos de curta duração” do que sobre o conceito de
vídeo em si. Está todo mundo gastando muito dinheiro em vídeos de longa
duração.
Há outras semelhanças. Enquanto os produtores de televisão
precisam das distribuidoras de TV a cabo ou aberta para alcançar seus públicos,
a mídia digital precisa cada vez mais das plataformas sociais como Facebook e
YouTube em vez de seus próprios websites ou apps. Este não foi o caso quando a
imprensa tinha suas próprias instalações para impressão e sistemas de
distribuição.
Ideias como “horário nobre” também já migraram da televisão
para a mídia social. Já não se pode twittar ou postar no Facebook ou Instagram
a qualquer hora. Agora, tem de acontecer em certos horários para adquirir maior
número de engajamento e portanto visibilidade.
Isto é tudo um incremento a ideias recentes como TV YouTube,
ou transmissões ao vivo no Facebook e no Twitter de produtos convencionais da
televisão. Estes são quase literalmente uma re-imaginação da televisão na nova
era da internet móvel.
A internet se tornou uma neo-TV e nós vamos ter que encarar
as consequências assustadoras de uma sociedade dominada pela televisão, algumas
das quais Neil Postman explicou em 1985 em seu livro “Amusing Ourselves to
Death”.
Televisão, velha ou nova, é o novo meio da nossa nova era
pós-Iluminismo em que texto e razão são substituídos por imagens e emoções.
Para ser curto e franco, Trump é só o começo.
*Hossein Derakhshan é jornalista, analista e co-autor de
“Information Disorder: Toward an interdisciplinary framework for research and
policy making”, e escreveu o texto “Television has won” para o projeto de final
de ano Predictions for Journalism 2018, organizado pelo Nieman Lab. Leia aqui o
texto original.
* O texto foi traduzido por Carolina Reis do Nascimento.
Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br
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