Publicado originalmente no site da Revista Istoé Dinheiro,
em 10.02.17.
Mercado Digital.
Por que o Brasil se tornou peça-chave na estratégia de
expansão global da Netflix.
Por Roger Marzochi.
Após 20 anos de sua primeira visita ao Brasil, o CEO e
fundador do serviço de streaming de vídeo Netflix, Reed Hastings, fez questão
de ir ao D.O.M., em São Paulo, na segunda-feira, 6. Ele queria conhecer o
aclamado restaurante do brasileiro Alex Atala, um dos personagens retratados na
segunda temporada da série Chef´s Table, produzida pela Netflix, que conta a
história de cozinheiros redor do mundo. “Ele me disse que o seriado mudou sua
vida”, contou Hastings, em um encontro com a imprensa um dia depois.
Isso porque, segundo o relato do empresário, o trabalho de
Atala ganhou ainda mais projeção no exterior com esse programa. “A Netflix se
tornou em um grande símbolo de criar conteúdo e espalhar para o mundo todo”,
afirmou o empreendedor. Hastings, no entanto, não estava no Brasil só para
provar as iguarias da culinária brasileira de Atala. Ele esteve por aqui porque
a estratégia de crescimento da companhia passa pelo mercado brasileiro. “O
Brasil é um foguete”, afirmou Hastings. “Vamos investir mais no País e na
América Latina.”
Estima-se que a Netflix tenha seis milhões de assinantes no
País, de acordo com o blog Notícias da TV, do jornalista Daniel Castro. Os
números foram calculados a partir de logins na internet, tráfego de dados e
pesquisas de mercado por uma empresa que não quis divulgar seu nome. Com uma
mensalidade média de R$ 22,90, sua receita estaria na casa dos R$ 1,3 bilhão, o
que seria 30% superior ao do SBT, emissora do Sílvio Santos, e só atrás da Rede
Globo. A Netflix não confirma os dados.
A caminhada para ganhar o mercado brasileiro não foi
simples. Quando estreou no País, há seis anos, a empresa enfrentou
dificuldades. “Eles enviaram uma equipe para investigar o que estava
acontecendo”, diz Edney Souza, professor da Pós-Graduação de Comunicação
Digital da ESPM. Liderada pelo executivo Todd Yellin, o grupo desembarcou em
São Paulo e constatou que a baixa adesão ao serviço era um reflexo da
precariedade da web. A direção da empresa, na Califórnia, determinou que o
grupo fizesse de tudo para conseguir resolver essa questão.
“Eles instalaram servidores no País e fizeram parcerias com
empresas de telefonia”, diz Souza. O que aprendeu por aqui foi essencial para a
Netflix se lançar na sua maior ofensiva global. Em janeiro de 2016, ela lançou
o seu serviço em 130 países. Hoje, está em 190 países, contando com 93,8 milhões
de assinantes. Em 2013, a empresa tomou a decisão de produzir conteúdo próprio,
ficando mais independente de acordos de licenciamento com estúdios e tevês dos
EUA. O sucesso de House of Cards, que conta a história de um político
inescrupuloso, abriu as portas para outras produções.
A maioria delas ainda é filmada nos EUA, onde se tornou a
maior produtora de séries. No ano passado, foram 43 títulos. Mas, cada vez
mais, a Netflix busca parcerias locais, como a que aconteceu com a série
Narcos, sobre o traficante Pablo Escobar, que alcançou sucesso global. Ela é
protagonizada pelo ator baiano Wagner Moura e dirigida por José Padilha, o
mesmo do filme “Tropa de Elite”. “Atores americanos, brasileiros, colombianos e
uma história latina”, diz Souza. “Essa salada para agradar a todos ajudou a
Netflix.” Narcos se transformou em um sucesso global e levou a companhia a
ganhar mercado no Brasil.
Na semana passada, a Netflix mostrou que vai reforçar sua
estratégia de produção de séries no País. Hastings anunciou Samantha, a segunda
série original brasileira, que começa a ser gravada neste ano pela produtora
Losbragas, de propriedade da atriz Alice Braga. A série contará a história de
uma atriz mirim que, aos 20 anos, tenta recuperar a fama ao lado do marido, um
ex-jogador de futebol, que passou dez anos na prisão. “Essa série vai levar a
cultura brasileira para o mundo”, disse Hastings.
A primeira produção brasileira foi 3%, da Boutique Filmes. O
CEO da Netflix confirmou que ela terá uma segunda temporada. Além disso, Padilha
segue filmando uma série inspirada na Operação Lava Jato. Mas nem só de séries
originais vive a Netflix. O serviço negocia com o Simba, grupo formado pelo
SBT, Record e RedeTV para o licenciamento da produção dessas emissoras.
Hastings ainda diz que pode até produzir novelas. Seria um confronto com a
Globo, sinalizando que as próximas temporadas da Netflix devem ser ainda mais
emocionantes.
Texto e imagem reproduzidos do site: istoedinheiro.com.br
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